quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Banquetes



Banquetes e sociedade, passeios, jogos, opera e bailes
Só roubam o tempo mais conveniente ao amor.
Repugnam-me esplendor e cerimônias, pois afinal
Não se levantará a sai de brocado tal como a de lã?
E se ela quiser acomodar o amado entre os seios,
Não desejará ele libertá-la logo de todos os adornos?
Não deverão jóias e rendas, estofos e ganchos
Cair todos antes de ele poder sentir a bela?
Mais perto a teremos! E já sua sainha de lã desliza
Em pregas para o chão quando o amigo a desprende.
Apressado, leva a rapariga, em leve linho envolvida,
Como faria a uma ama, para o leito gracejando.
Sem cortinados de seda e sem colchões bordados
Acomodam-se os dois no quarto vazio.
Toma então Júpiter mais da sua Juno.
E delicie-se o mortal, se mais o conseguir.
Deleitam-nos os prazeres do verdadeiro Amor nu
E o doce ranger da cama que balança.

 - Goethe – in Elegias Romanas

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Bárbara - Chico Buarque - Ruy Guerra/1972-1973



 
 Anna: Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor, vem me buscar
 Bárbara: O meu destino é caminhar assim
Desesperada e nua
Sabendo que no fim da noite serei tua
 Anna: Deixa eu te proteger do mal, dos medos e da chuva
Acumulando de prazeres teu leito de viúva
 As duas: Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor vem me buscar
 Anna: Vamos ceder enfim à tentação das nossas bocas cruas
E mergulhar no poço escuro de nós duas *
 Bárbara: Vamos viver agonizando uma paixão vadia
Maravilhosa e transbordante, feito uma hemorragia
 As duas: Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor vem me buscar

 
* Trecho abafado por aplausos, na gravação, em função da censura

Colaboração: André L.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

É...



É bom nadar assim
em cima do teu corpo
enquanto tu mergulhas já dentro do meu

Ambos piscinas que a nado atravessamos
de costas tu meu amor
de bruços eu
- Maria Tereza Horta - Colaboração Bete M.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Luxúria



     Olhos semicerrados,
     Olhei para ti minha concubina
     vermelha, ofegante sobre mim.

     Com olhos semicerrados
     meu sangue, minha vida
     despejo na tua ocre taça esplêndida.

     Sou teu lado animal,
     sou tua carne espiritual.
     Sou o sacrificado imortal
     da tua sede sem igual.

     Todos os prazeres animais
     são carícias a ti, que se enverga
     em êxtase e extática suspira.
     Mas quem se entrega sou eu!
     (e quem expira sou eu...)

     Na tua sagrada taça abominável
     nem uma gota só deixas escapar
     e eu morro de deleite e me deleito
     na minha morte, no teu leito.

- Eduardo Pinheiro de Souza - 1996

Uma mulher espera por mim



Uma mulher espera por mim, ela tudo contém, nada falta,
No entanto, tudo ficou faltando se o sexo faltou, ou se o orvalho do varão certo estivesse faltando.

O sexo contém tudo, corpos, almas,
Significados, experiências, purezas, delicadezas, resultados, promulgações,
Canções, mandamentos, saúde, orgulho, o mistério da maternidade, o leite seminal,
Todas as esperanças, benefícios, doações, todas as paixões, amores, belezas, deleites da terra,
Todos os governos, juízes, deuses seguiram pessoas da terra,
Estes estão contidos no sexo como partes de si mesmo e justificativas de si mesmo.

Sem pejo a mulher de quem eu gosto conhece e assegura a delícia do seu sexo,
Sem pejo a mulher de quem eu gosto conhece e assegura as suas.

Agora vou dispensar-me de mulheres frias,
Vou ficar com ela que espera por mim e com aquelas mulheres que são apaixonadas e me satisfazem,
Vejo que me compreendem e não me negam,
Vejo que são dignas de mim, serei o marido vigoroso de tais mulheres.



Walt Whitman -
 

No corpo feminino...



No corpo feminino, esse retiro 
- a doce bunda - é ainda o que prefiro.
A ela, meu mais íntimo suspiro,
Pois tanto mais a apalpo quanto a miro.

Que tanto mais a quero, se me firo
Em unhas protestantes, a respiro
A brisa dos planetas, no seu giro
Lento, violento... Então, se ponho tiro

A mão em concha - a mão, sábio papiro,
Iluminando o gozo, qual lampiro.
Ou se, dessedentado, já me estiro,

Me penso, me restauro, me confiro,
O sentimento da morte ei que adquiro:
De rola, a bunda torna-se vampiro.





Maria Tereza Horta - Colaboração: Bete M.